segunda-feira, 28 de julho de 2008

Herbert Marcuse - inspirador ideológico do movimento estudantil de protesto de Maio de 1968


Marcuse preocupava-se com o desenvolvimento descontrolado da tecnologia, os movimentos repressivos das liberdades individuais, e com uma desvalorização da razão em favor da técnica. No seu livro "O homem unidimensional", Marcuse afirma que a sociedade industrial chegou a um ponto onde a burguesia e o proletariado, classes responsáveis pelo movimento da história, deixam de ser agentes transformadores da sociedade para se tornarem agentes defensores do status quo.

Os avanços da técnica solucionaram tantas pequenas necessidades, tornaram a vida destes grupos tão confortáveis, que o ímpeto revolucionário desses grupos cessou. Ao mesmo tempo, a técnica possibilita um controle social cada vez mais aperfeiçoado, e se torna não um instrumento neutro, como se acreditava anteriormente, e sim engrenagem central de um novo sistema de dominação. E se o proletariado não é mais "sujeito revolucionário", grupo em oposição à sociedade hegemónica, que grupo social o será?

De acordo com Marcuse, isso cabe àqueles cuja ascensão não é permitida pela sociedade moderna, aos grupos minoritários às margens da sociedade que o bem-estar geral não conseguiu (ou não se interessou em) incorporar.

Marcuse retoma de Hegel duas noções capitais, a ideia de "Razão" e a ideia de "Negatividade". A Razão é a faculdade humana que se manifesta no uso completo feito pelo Homem das suas possibilidades. Não se pode compreender a "possibilidade" longe do conceito de "necessidade". O que necessitamos? A necessidade  dirige-nos a certos objetos cuja falta sentimos.

A possibilidade mede o raio de nosso alcance face a tais objetos. Se quero um apartamento mas não tenho dinheiro para comprá-lo, o objeto de minha necessidade é o apartamento, e a medida de minha possibilidade é o dinheiro que me falta. É muito fácil compreender como a falta de dinheiro representa um bloqueio falso, fictício, à satisfação de meu desejo. Na realidade posso ter o apartamento, mas certas convenções sociais, que respeito de modo mais ou menos acrítico, me impedem de possuí-lo. Ao mesmo tempo, se me interrogo a respeito da minha necessidade face ao apartamento, essa também se dissolve.

O apartamento é um símbolo de status social, ou resultado de certas convenções visando ao gosto que seriam, noutras condições, muito discutíveis, e que nem sempre me possibilitam morar satisfatoriamente. A minha necessidade revela-se, portanto, como uma falsa necessidade, assim como o bloqueio pela falta de dinheiro das minhas possibilidades era um bloqueio falso. Onde se encontram, então, as minhas necessidades e as minhas possibilidades? Como compreenderemos o que é Razão?

Marcuse preocupa-se  muito com este problema ao longo de toda a sua obra, sempre polémica.

No livro "Ideologia da Sociedade Industrial", Marcuse repete a crítica ao racionalismo da sociedade moderna, e tenta ao mesmo tempo esboçar o caminho que poderá nos afastar dele. O caminho será, por um aspecto, a contestação da sociedade pelos marginais que a sociedade desprezou ou não conseguiu beneficiar. Será por outro aspecto o desenvolvimento extremo da tecnologia, que deverá ter, segundo Marx e Marcuse, efeitos revolucionários. Quais são estes efeitos? O problema da sociedade moderna é a invasão da mentalidade mercantilista e quantificadora a todos os domínios do pensamento.

Esta mentalidade  representa economicamente pelo valor de troca, ligado de modo íntimo aos processos de alienação do homem. E, segundo Marx, com o desenvolvimento extremo da tecnologia "a forma de produção assente no valor de troca sucumbirá". A sociedade moderna, sentindo, que sua base a tecnologia - contém seu rompimento, age repressivamente para evitar este avanço extremo. Marcuse tinha esperança  que não.

Biografia completa aqui e aqui

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